Capítuto 56:
Sara:
Cheguei a minha casa mais de quatro da tarde. Não avistei nenhum Toyota enquanto passava pela garagem e isso só me animou ainda mais. Subi logo para o meu quarto e fechei a porta. Sabia que ele estava bagunçado, então me joguei logo na cama. Encarei o teto por algum tempo e me dei conta do que eu ia fazer o restante do dia: um banho e depois ver um filme afundada no sofá comendo salgadinhos de queijo (meus favoritos).
Estava tirando o tênis e indo em direção ao banheiro quando ouvi algumas batidas na porta.
- Sara? – Reconheci a voz de Matt do outro lado e me aproximei sem dizer nada. – Tudo bem? Tá se sentindo melhor?
Normalmente eu apenas daria uma resposta seca ou trancaria a porta e não falaria com ninguém, mas meu estado de espírito estava tão bom que eu poderia falar normalmente com Matt. Então, eu coloquei a mão na maçaneta e abri a porta. Ele estava lá, me encarando sem jeito.
- Oi – ele soltou um sorriso. – Tirou a maquiagem?
Desviei o olhar e soltei uma risada.
- Eu gostei assim – admitiu (coisa que me fez corar).
- Valeu – respondi.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Eu encarava o chão e ele olhava para os cantos. Foi então que ouvi ele dizer algo com seu tom que extrema sinceridade.
- Ela gostou do livro?
Congelei. Então estava com ele esse tempo todo, pensei.
- Você esqueceu ele da última vez que esteve na Califórnia – respondeu Matt, como se tivesse acabo de ouvir meus pensamentos. – Achei que... pudesse ajudar de alguma forma.
- Como você... Como sabia que eu...
- Sara, eu te conheço – falou. – Moramos juntos quando éramos crianças dos seus seis aos seus dez anos antes de você vir pra cá – lembrou. – Desde ontem, quando a Anne falou sobre “passar um tempo com a mãe” eu sabia que você ia hoje ver a tia Gisele.
Pisquei duas vezes.
- Eu... Ãn... Eu...
E então, Matt abriu totalmente a porta (aproveitando meu estado de choque) e me envolveu em um abraço terno. Não fiz nada para que ele se afastasse, mas também não correspondi. Apenas fiquei parada recebendo o carinho.
- Eu não quero ver você sofrer, Sara – confessou. – Eu quero ver você sorrir e ser a pessoa maravilhosa que eu sei que você é.
Enquanto ele falava, o seu perfume invadia meu corpo e eu me deixei afundar naquele peitoral definido enquanto fechava meus olhos para melhor ouvir cada palavra dele. Além disso, o tamanho de Matt me fazia sentir uma pessoa tão “inha”. O queixo dele batia no alto da minha cabeça e suas mãos preenchiam minhas costas.
- Eu vou estar sempre aqui – prometeu. – Eu sei que sou um primo horrível, que você queria que eu não estivesse aqui, mas mesmo que você não queira, quando eu sentir que você precisa de mim, eu vou estar com você.
As palavras dele me davam, junto com a vontade de chorar, algo que eu não sentia desde que saí do internato: segurança. Matt nunca havia sido carinhoso comigo. E, de repente, ele se comportava como... a melhor pessoa do mundo.
- Matt, eu...
- Não diz nada – interrompeu. – Sara, eu só quero te proteger – Ele me apertou ainda mais contra seu peito e beijou o alto da minha cabeça. Quando fez isso, um arrepio percorreu minha espinha e eu tive alguns formigamentos no estômago (seriam as tais das borboletas, talvez?)
Nesse momento então, não sei por quê, eu passei os meus braços por seu corpo e a pressioná-lo contra mim. Abaixei ainda mais a cabeça e me encolhi um pouco para que ele me abraçasse ainda mais forte (sim, eu estava correspondendo ao Matt).
- Não vou te deixar – continuou. – Você não vai estar sozinha.
Eu inspirei novamente aquele perfume doce e suave enquanto as palavras dele me vinham aos ouvidos e quando dei por mim, estava sorrindo que nem uma retardada.
- Vou te proteger, Sara. E sempre que alguém te machucar, ou que você se sentir mal, eu vou fazer você se sentir melhor. Eu vou te curar.
O tom de voz do Matt era como o de uma pessoa muito zelosa e cuidadosa. Era como se ele não fosse o meu primo retardado que só me fazia passar vergonha o resto da vida. Era como se ele fosse apenas um cara que se preocupa comigo e quer o meu bem.
- Você é a minha Sara e eu só quero o seu bem. Ninguém vai te machucar enquanto eu estiver aqui.
Quando ele me soltou, eu me dei conta de que estava quase sem ar. Ele segurou as minhas mãos e eu abri meus olhos. Ele me fitava sério. Suas íris azuis metálicas me encaravam com uma intensidade tremenda.
- Por que agente não pede uma pizza e vê um filme? – Propôs. – Eu cheguei e tinha um bilhete do seu pai dizendo que ele vai voltar tarde hoje. – Agora ele sorria como quem dizia “podemos fazer uma festa e seu pai nunca vai saber”.
Raspei a garganta para responder (ainda tentando assimilar o que tinha acabado de acontecer).
- Eu... estava pensando mais em salgadinhos de queijo e chocolates – confessei.
O sorriso de Matt aumentou.
- Eu vou preparar tudo lá embaixo e te espero, ok?
Concordei com a cabeça e antes de Matt soltar minhas mãos e descer, ele se inclinou e abaixou para me dar um beijo na bochecha.
- Não demora, minha linda. Somos só eu e você e não precisa de muita coisa.
E enquanto ele se afastava e me deixava plantada em frente à porta do meu quarto com um coração acelerado, as borboletas no estômago e uma respiração ofegante, eu me sentia diante de um mar de emoções que eu nunca havia sentido antes.
Claro que eu já havia ficado, namorado e me sentido atraída por alguns meninos antes, mas nada, nunca, se comparou ao que tinha acabado de acontecer. O abraço de Matt me abalara de um jeito que fazia minhas mãos tremerem só de pensar nele. Aquele cheiro, aquele corpo, aquele toque, aquelas falas, aquele beijo...
Uma coisa é certa, disse a mim mesma depois de retomar a consciência e já debaixo do chuveiro, você não vai prestar atenção no filme.